O RITO ADONHIRAMITA

ORIGENS

A história do Rito Adonhiramita, como ocorre com a dos demais Ritos, é cercada de lendas, estórias e da criatividade de diversos escritores. As dificuldades residem na precisão de datas e fatos historiográficos. Neste texto iremos nos ater apenas aos fatos concretos obtidos por meio de historiadores que pesquisaram o desenvolvimento do Rito Adonhiramita ao longo do tempo, desde os seus primórdios. Há muitos séculos, vários historiadores, deixaram suas impressões escritas em diversos livros e compêndios, principalmente após o ano de 1700.

Assim, querer datar precisamente, como se houvesse uma certidão de nascimento do Rito Adonhiramita, sempre foi descrito como temerário para esses ilustres historiadores, embora existam autores que não se detiveram a fatos e tenham expressado suas ideias erroneamente ao longo dos séculos, ecoando-as até os tempos atuais, para os mais desavisados.

Para podermos situar o Rito Adonhiramita no contexto histórico ano iniciado em 1701, temos que lembrar que naquele século, deu-se o nascimento de um movimento social denominado de Iluminismo (1715), que perdurou até a Revolução Francesa (1789). Durante esse período, vários movimentos sociais – com todos os matizes possíveis à época - com datas conhecidas, ficaram gravadas na historiografia da humanidade.

Na Inglaterra, nasce o movimento de transformação das Confrarias de Construtores Operativos para a modalidade Especulativa objetivando criar em 1717 a Grande Loja da Inglaterra, onde houve a fusão de vários “rituais” operativos. O Grão-Mestre George Payne criou uma comissão – presidida pelo Rev. James Anderson - para agrupar todas as “Old Charges” e ordenamentos operativos (portanto já existentes) e publicando em 1723 o que conhecemos como Constituição de Anderson.

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Na França, algo similar ocorreu. Nasce em Paris no ano de 1708 o músico Louis Antoine Travenol (filho de pai igualmente professor de música), que fez parte da Orquestra da Ópera de Paris, tendo falecido na mesma cidade onde nasceu, em 1783.

Escreveu ele algumas partituras musicais (óperas) e também obras de Literatura, dentre as quais, uma delas, que é de especial importância para a Maçonaria, denominada: “Catecisme Des Francs-Maçons: Précédé d’un Abrégé de l’Histoire d’Adoniram, Architecte du Temple de Salomon, & d’une Explication des Cérémonies qui s’observent à la Réception des Maîtres; le Signe, le Mot & l’Attouchement , qui les distinguent d’avec les Apprentifs Compagnons”.

Assina esta obra com o pseudônimo de Léonard Gabanon (1ª Ed. 1744; 2ª Ed. 1747 e consta da literatura corrente que outra edição foi publicada em 1780).


Esse fato histórico da obra de Léonard Gabanon, dá início a duas correntes de pensamento teórico e ritualístico, focadas em dois nomes: Adonhiram e Hiram Abif. É o que os historiadores definem como vertentes “Adonhiramitas e Hiramitas”.

Concomitante a esse fato, a Maçonaria começa uma expansão incontrolada, no que tange ao aparecimento de graus superiores. Durante quase 50 anos foram criadas várias práticas ritualísticas maçônicas das mais diversas vertentes chegando a compor cerca de 70 ritos diferentes, o que começa a ocasionar várias complicações.

Isto porque, cada Rito instala a sua Instituição, colocando-se como exclusivo e superior aos demais ritos praticados. Deste período lembramos da Ordem dos Sacerdotes Eleitos do Universo, Estrita Observância Templária e o descendente direto deste sistema, o regime Escocês Retificado, entre muitos outros que surgiram na ocasião. Portanto a partir desse marco histórico, tem-se uma seara propícia ao agregamento das mais variadas correntes convergindo para dentro da Maçonaria, bem como influenciada por ela.

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Foi a época em que a historiografia nos mostra a variedade de sistemas criados, o influxo dos movimentos Rosa+Cruz, Alquimia, Hermetismo, Magia, Cabala e as mais variadas correntes que, de uma forma ou outra, acabaram interagindo com a Maçonaria do Séc. XVIII. De todo esse caldo místico-esotérico, surge então um dos mais bem estruturados sistemas, o mais longo da época, com 25 graus, nascido em 1758. Entretanto, somente após 1773 ele ficou conhecido com o nome de Rito de Heredom ou Rito de Perfeição.

No ano de 1758, foi criado em Paris, o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente, que teve como principal medida, por em curso uma grande reforma ritualística tendo por base estudos aprofundados sobre os ritos de Kilwinning, de Clermont e sobretudo de Heredom. Objetivava-se com essa reforma, que pudessem surgir RITOS organizados e estruturados, seguindo cada um com suas tendências e perspectivas próprias. Autores relatam que o Catecismo dos Franco Maçons de Travenol, foi a pedra de toque para este trabalho do Conselho.

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Théodore-Henry, conhecido como Barão de Tschoudy (conhecido também como Cavaleiro de Lussy) fazia parte deste Conselho. Nascido em Metz no ano de 1727, filho de uma família Suíça, exerceu o cargo de Conselheiro do Parlamento de sua cidade natal e foi um maçom entusiasta.

Iniciado na Loja Napolitana, na Itália, vindo a falecer em Paris em 1769, aos 42 anos de idade. Foi o autor do Rito da Estrela Flamígera, voltado para a Maçonaria alquímica e que não prevaleceu à época e igualmente autor de inúmeros outros textos com foco no hermetismo, cabala e alquimia.

Tschoudy participou de trabalhos no Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente, onde desenvolveu estudos no sentido de avançar perspectivas de novos e altos graus, que hoje denominamos de filosóficos, baseando-se sobremodo nos altos graus dos ritos de Memphis e de Memphis-Misraim, tendo sido auxiliado em grande parte dessa sua caminhada, pelo belga, Jean Baptiste Thomaz Pirlet (nascido em 1717 e falecido em 1791, aos 73 anos de idade), responsável por criar o Rito de Perfeição, baseado no Rito de Heredom e o sistema Escocês Trinitário. Estes dois maçons fizeram história juntos...


Nasce em Paris em 1735, Louis Guillermain de Saint-Victor, (oito anos após o nascimento de Tschoudy), com data de morte incerta ou não revelada historicamente. Muito pouco de sua biografia é conhecida ou publicada, no Brasil como no Exterior.

Logo após o Grande Oriente da França criar uma Comissão de Altos Graus em 1773 - como já havia ocorrido na Inglaterra - começa a aparecer naquele país os Capítulos ou Lojas Capitulares objetivando gerir os graus ditos filosóficos, posteriores ao grau de Mestre Maçom. Foi proposto nesta Comissão - por Alexandre Louis Roettiers de Montaleau – um estudo sobre todos os graus existentes e praticados na França, buscando criar um sistema ordenado que contemplasse toda filosofia maçônica.

Assim neste efervescer de acontecimentos próprios da época, no ano de 1781, Louis Guillemain de Saint-Victor publica o “Recueil Précieux de la Maçonnerie Adonhiramite” (1ª Ed. – A Philadélphie/Philarethe), traduzido para o português como “Coleção Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”, com os 4 primeiros graus: um compêndio onde encontra-se descrito os Graus de Aprendiz, Companheiro, Mestre Maçom e um quarto Grau como continuação, denominado Mestre Perfeito, completando assim o simbolismo à época e, de fato, sintetizando toda vertente francesa daquele tempo, colocando Adonhiram como o grande nome da Lenda Maçônica.

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Em 1785 o Grande Capítulo Geral da França entrega seu Trabalho de Síntese dos Altos Graus Franceses. No ano seguinte, em 1786, Louis Guillermain de Saint-Victor publica a segunda edição de sua Coleção Preciosa. Foram, portanto, 6 anos depois da primeira edição, como ele próprio informa no texto da apresentação desta nova publicação.

E nesta segunda edição ele apresenta o Ritual com 12 Graus (sendo o Grau Rosa Cruz como o "nec plus ultra”, seguido de um texto inserido no final desta nova edição, informando tratar-se, simplesmente, de uma curiosidade maçônica e não mais um específico Grau.

Guillemain de Saint-Victor afirma que o Grau chamado, Noaquita ou Cavaleiro Prussiano não teria nenhuma conexão com a série anterior de 12 graus apresentada por ele, deixando claro que seria somente a título de complemento e curiosidade maçônica que trouxe para o seu segundo volume da Compilação Preciosa, uma tradução do alemão, de autoria de M. de Bérage. De fato, ele publicou - no Journal de Trévoux - em 1785 a tradução do trabalho em alemão a respeito do Grau Noachita ou Cavaleiro Prussiano.


O Barão de Tschoudy tinha falecido em 1769, portanto a Coleção Preciosa da Maçonaria Adonhiramita foi publicada pela primeira vez, 12 anos após sua morte e, sua segunda edição, 18 anos após.

A obra de Louis Guillemain de Saint Victor teve repercussão extremamente positiva a ponto de após o lançamento da primeira edição e mesmo ano do lançamento da segunda edição da Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, já estar sendo publicada, em francês no exterior, especificamente na Filadélfia, EUA.

Esta obra se tornou uma referência canônica do Rito Adonhiramita e com ela o próprio rito alcançou ampla divulgação e expansão na Europa, chegando a se tornar o principal Rito do Grande Oriente Lusitano, sendo exportado para suas colônias na África, Ásia e Novo Mundo (Brasil).


Na França, tornou-se, junto com a estrutura proposta pelo Grande Capítulo Geral, o padrão de “Ortodoxia Maçônica”.

Nasce em 1781, (no mesmo ano que foi publicada a primeira edição da Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita), Jean Baptiste Marie Ragon de Bettignies – mais conhecido como RAGON - e foi iniciado ainda jovem (aos 24 anos) em Bruges, na Bélgica, no ano de 1804.

Foi membro na Loja e Capítulo dos Verdadeiros Amigos, na França. É considerado um dos mais ilustres maçons e um dos mais notáveis e ao mesmo tempo, controvertido escritor da Ordem, à época, pois suas obras exerceram grande influência na Maçonaria francesa, sobretudo. Foi membro do Grande Oriente do Rito de Misraim e da Ordem do Templo de Fabre Palleprat. Fundou e presidiu a célebre Sociedade dos Trinósofos, promovendo a união do Capítulo e do Areópago. Além disso, foi um dos integrantes do “Supremo Conselho – Summum Supremum Sanctuarium” – do Sagrado Círculo de Thelema (SCT).

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Ragon, realizou teatralmente, algumas representações ritualísticas maçônicas em público, em 1817, cujos resultados influenciaram consideravelmente sua trajetória iniciática. Depois desse episódio, o Grande Oriente da França advertiu-o oficialmente e o proibiu peremptoriamente de praticar o Rito de Misraim. Ele atendeu à ordem e, dias depois, voltou a trabalhar de forma publica e teatralmente, com o Capítulo dos Trinósofos.

No que respeita ao Rito Adonhiramita, seu livro Livro Ortodoxia Maçônica (ed. Madras, 2006, pag. 116) ele insere o seguinte comentário no “Capítulo XI – Conselho dos Imperadores do Oriente e do Acidente”:

“Maçonaria Adonhiramita Ela existe na obra do barão de Tschoudy, tendo por título, Compêndio Precioso sobre a Maçonaria Adonhiramita ( 1 volume, in-12, em duas partes; a primeira é de 144 páginas; a segunda é de 166 páginas; Paris, 1787).

Compreende 13 graus; o autor excede-se ao enriquecer de notas curiosas e de sábias observações os três primeiros graus. Essa referência justifica a opinião, comum entre os maçons instruídos, de que a verdadeira Maçonaria não se estende além do regime simbólico:

1. Aprendiz
2. Companheiro
3. Mestre
4. Antigo Mestre
5. Eleito dos Nove
6. Eleito de Pérignan
7. Eleito dos Quinze
8. Pequeno Arquiteto
9. Grande Arquiteto
10. Mestre Escocês
11. Cavaleiro do Oriente
12. Rosa-Cruz
13. Noaquita ou Cavaleiro Prussiano

O barão de Tschoudy não atuou na Maçonaria senão para propagar o sistema jesuítico e, também, dedicou esse rito aos maçons instruídos (leiam-se aos jesuítas), Tschoudy não foi o único que imaginou sistemas e graus sob formas maçônicas, vamos citar outros autores principais, para instrução dos Irmãos recém-admitidos na Instituição.”

Aliás, é sob o título de “Ortodoxia Maçônica” (“Orthodoxie Maçonnique suive de La Maçonnerie Oculte”, editada em 1837), que Jean Baptiste Marie Ragon (1781-1862) irá cometer alguns erros históricos que se propagarão com imenso sucesso pelo mundo maçônico.

O erro maior de Ragon foi atribuir a autoria da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” ao Barão de Tschoudy confundindo e afirmando em sua obra Ortodoxia Maçônica, sem o devido conhecimento historiográfico sobre fatos reais do Rito Adonhiramita.
Esse erro será repetido por diversos autores tanto em Portugal quanto no Brasil, nos USA e em outros países da Europa.
Tschoudy não teve absolutamente nada a ver com o Rito Adonhiramita propriamente dito a não ser ajudar na formatação de ritos em geral, como membro do Conselho dos Imperadores do Oriente e Ocidente.
Sua obra ritualística de maior envergadura, denomina-se “A Estrela Flamejante” que lançava as bases de uma Ordem denominada de “Ordem da Estrela Flamejante”, de características alquímicas e que não foi avante.
Em 1766, Tschoudy instituiu, mais no papel do que efetivamente na prática, sua Ordem, baseado na lenda de que tradições alquímicas que teriam sido passadas pelos ascetas da antiga Tebaída às Ordens de Cavalaria Cristã e dessas para a Franco-Maçonaria, sem contudo nenhum sucesso.
O Barão de Tschoudy faleceu em 1769 aos 49 anos de idade, ou seja, 13 anos antes do lançamento da primeira edição da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” composto de 4 graus.

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O RITO ADONHIRAMITA NO BRASIL

A chegada no Rito no Brasil se deu no final do século XVIII com a vinda de D. João VI e da família Real para o Brasil e por aqui, encontravam-se maçons iniciados na Europa.

Em 15 de novembro de 1815, com o nome Commercio e Artes, - célula mater da Maçonaria brasileira – foi fundada a Loja Regular jurisdicionada ao Grande Oriente Lusitano praticante do Rito Adonhiramita, que passou a congregar as mais importantes lideranças políticas no Rio de Janeiro, de então.

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Em 30 de março de 1818, a Loja Commercio e Artes foi forçada a abater colunas por imposição de um Alvará Régio. Dom João VI proibia o funcionamento de todas as sociedades ditas secretas no Brasil – nomeadamente a maçonaria – à época fomentado pela Revolução Pernambucana de 1817.

Somente em abril de 1821, após o regresso de Dom João VI e de sua Corte a Portugal, foi possível dar forma e reorganização à Maçonaria no Brasil.

Não há registro documental da chegada do primeiro Ritual Adonhiramita em nosso país, contudo autores informam que existem registros portugueses, de 1822, como sendo o ano da primeira edição do Catecismo do Aprendiz do Rito Adonhiramita.

Em 22 de julho de 1822, a partir da fundação de três Lojas Simbólicas – que foram criadas pelo desdobramento da Commercio e Artes, em mais duas Lojas denominadas Esperança de Niterói e União e Tranquilidade – é criado o Grande Oriente Brasiliano ou Brasílico, hoje denominado Grande Oriente do Brasil – GOB.

As três Lojas, praticavam o rito Adonhiramita, segundo consta de Atas existentes e, portanto, o primeiro Rito praticado oficialmente pelo Grande Oriente Basílico. A partir do século XIX passa a ser praticado exclusivamente no Brasil o denominado Rito dos Treze Graus.

Em 1836, pela Typographia Austral, é publicado a primeira edição do Ritual do Grau de Aprendiz Maçom, com fulcro na Coleção Preciosa da Maçonaria Adonhiramita.

O Grande Oriente do Brasil, até o ano de 1873, manteve sob sua jurisdição não só os graus simbólicos como também todos aqueles que compunham os Corpos Filosóficos praticados no Brasil. Neste mesmo ano, o Grande Oriente do Brasil – GOB ficou sob sua jurisdição somente os graus simbólicos, transferindo para os Altos Conselhos de cada Rito.

No caso específico do Rito Adonhiramita, por meio do Decreto nº 21, de 24 de abril de 1873, imagens a seguir, é criado o Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas, transformando-o em sua Grande Oficina-Chefe.

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Em 2 de junho de 1973, após exaustivos estudos objetivando a adaptação e evolução da Maçonaria Adonhiramita, reuniu a Oficina-Chefe para promover sua reestruturação, inserindo mais 20 graus em sua hierarquia, integrando os 33 graus hoje existentes.

Em 2010 o Rito Adonhiramita volta a se praticado em Portugal, com seu Alto Conselho denominado Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita para Portugal – ECMAP.

Em 20/02/2020 é fundado o SUPRAB – Supremo Patriarcado do Rito Adonhiramita do Brasil...

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